Uma viagem

Hoje eu andei de trem.

Não foi a minha primeira vez e tampouco a última. Ah eu lembro da minha primeira vez entrando naquela cabine apertada, lotada de pessoas donas das próprias histórias, local que eu me sentia inseguro, com medo do que aconteceria caso eu caísse da beirada... Dando um passo para trás quando a cabine avançava com toda ferocidade disponível nos seus motores, receoso de ser empurrado contra a porta, com medo das próprias pessoas que compartilhariam o mesmo espaço que eu até a próxima estação. Estação Tamanduateí. desembarque pelo lado esquerdo do trem. O lembrete do maquinista me tira dos meus pensamentos. Me lembro do vaivém das pessoas e me lembro do principal, do que aconteceu naquele dia. Alguém morreu.

Não foi do tipo de morte estatística, daquelas de noticiário que os mais velhos assistem, não, essa foi diferente, conflitante, o tipo de morte de ódio.

Enquanto eu andava pela estação, um tanto quanto perdida, eu vi duas pessoas. Duas mulheres na verdade. Pelo que eu entendi houve uma espécie de desentendimento, desconhecido até hoje. Ninguém interrompeu a cena, mas eu percebi os olhares bem atentos. Elas já estavam um tanto alteradas por demais. zumzum, era o barulho dos murmúrios silenciosos. Agora tudo que virava briguinha sem sentido, tomou proporções maiores. Uma delas caiu nos trilhos...A partir daí é fácil deduzir o que aconteceu, não é?

Podia ser mais um dia comum, mais uma saída no trem, mas não foi, aquilo me marcou, eu pensei que eu já estaria acostumado com as noticias ruins, afinal era só ligar a TV no jornal das 20h. Mas aquilo foi odioso, não só pela morte, mas pela ação, me deixou pensando o quanto nós podemos ser autodestrutivos, tóxicos, e isso resultou no que? Qual foi a lição aprendida? A reflexão implantada? Algumas dicas: Uma renovação nas orientações aos passageiros do limite da borda deveria ser feita e eu não iria mais assistir o jornal por causa da notícia: "Moça de 21 anos escorrega e morre em estação de trem".

#prosa #originais